domingo, 17 de julho de 2016

Na estratégia

Normalmente as corridas da MotoGP, ao contrário da F1, não contém muito o fator estratégia para decidir uma corrida. Por serem mais curtas e sem paradas de boxe, as provas da MotoGP se baseiam mais pela pilotagem dentro da pista, onde quem consegue ser rápido e sem desgastar em demasia os pneus, vence. Contudo, mais uma vez a chuva apareceu, outra vez proporcionando uma corrida maluca, mas se em Assen o vitorioso foi uma surpresa total, em Sachsenring quem triunfou é alguém bastante habitual em subir no alto do pódio na pista alemã. Marc Márquez chegou a sair da pista, após se acidentar feio no warm-up, mas sua entrada para trocar de moto na hora certa lhe garantiu a sétima vitória consecutiva na pista da Saxônia, se mantendo invicto desde 2010, quando ainda corria nas 125cc.

A prova da Moto2 foi tão acidentada, que todos os pilotos que chegaram marcaram pontos. Era um aviso para os pilotos da MotoGP. A pista molhada de Sachsenring, principalmente na curva um, era por demais traiçoeira. Com piso ainda encharcado, Valentino Rossi conseguiu uma largada agressiva, pulando para a ponta, na sua tentativa de melhorar sua situação já complicada no campeonato. Porém, Rossi teria a companhia dos seus compatriotas Danilo Petrucci e Andrea Doviziozo na ponta da corrida, com vantagem para Petrucci até o italiano da Ducati cair. Pobre Petrucci. Especialista em piso molhado, o italiano perdeu uma ótima chance de vitória. Quem assumia a ponta era Doviziozo, com Rossi e vários pilotos brigando pelo segundo lugar. Parecia que a Ducati sairia da seca de quase seis anos sem vitória.

Porém, foi um piloto da Ducati que indicou que as coisas estavam mudando em Sachsenring. Andrea Iannone, que chegou a se aproximar do primeiro pelotão, mas depois perdeu muito rendimento, foi aos boxes trocar de moto, montada com pneus intermediários. A pista secava claramente, mesmo que não na velocidade de como foi visto em Assen. Porém, por ser muito curto, o Grande Prêmio da Alemanha tem muitas voltas e a corrida ainda estava na metade, quando as demais motos reservas, já com pneus trocados, foram estacionadas em frente aos boxes. Mas haviam duas perguntas no ar carregado da pista alemã: Qual pneu colocar? E quando parar? Isso se provaria decisivo.

Doviziozo ainda liderava, enquanto Rossi brigava com vários pilotos de motos satélites, como o ascendente Carl Cruthlow, além do vencedor da corrida passada Jack Miller e Hector Barberá, na sua melhor corrida na MotoGP. Márquez, que saiu da pista no momento em que Petrucci caiu, foi um dos primeiros a trocar de moto e com pneus slicks, era o mais rápido da pista. Quando o espanhol era 5s mais rápido do que o primeiro pelotão, era claro que estava na hora de parar dos líderes. Mas liderados por Doviziozo, ninguém parava, para desespero dos mecânicos. E quando pararam, o estrago estava feito. Márquez tinha uma vantagem de 20s sobre eles, com o espanhol ainda tendo que fazer uma fácil ultrapassagem sobre um teimoso Miller, o último a trocar de moto. Redding estava em segundo, mas com pneus intermediários, foi alvo fácil de Cruthlow e Doviziozo, esse fazendo a ultrapassagem vitoriosa já nas curvas finais.

No fim, Marc Márquez deu um passo importantíssimo na luta pelo título desse ano. Com 25 pontos pela vitória, o espanhol abriu quase duas provas de vantagem para os seus mais próximos perseguidores. Valentino Rossi, que estava com pneus intermediários no fim, chegou apenas em oitavo, mas é impressionante a alergia de Jorge Lorenzo à pista molhada. Pela segunda prova consecutiva, o espanhol esteve irreconhecível e se não fossem os abandonos, sequer teria pontuado, pois Lorenzo foi apenas 15º, o último que marca ponto. Já pensei em chamar Lorenzo de novo Alain Prost, mas o francês conseguia ainda andar de forma razoável em pista molhada. Lorenzo não. Ele só consegue extrair tudo da moto quando tudo está perfeito para ele, na pista e na moto. Quando algumas dessas variáveis não está bem, Lorenzo dá outro vexame como o de hoje.

A Yamaha, que despontou como grande favorita para 2016, chega nas férias de verão com quase 50 pontos de desvantagem para Márquez, que está conseguindo equilibrar sua pilotagem selvagem com mais inteligência e senso estratégico. Contrariando várias expectativas, Márquez vai se garantindo como favorito destacado do campeonato de 2016 não apenas pela velocidade, mas pela eficiência em que vai se aproveitando dos erros e fraquezas dos seus principais rivais. Como um verdadeiro campeão.

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